A IMPORTÂNCIA DA PESQUISA CIENTÍFICA
A administração pública em nosso país tem chamado atenção para vários acontecimentos e aspectos. No atual modelo de gestão do Governo Federal, classificado aqui como um Estado Mínimo, mas principalmente negacionista, temos visto diversas situações passíveis de debates, que compreende as dimensões econômica, política, social e cultural. A Educação e a Saúde no Brasil exemplificam essa afirmação, pois vêm sofrendo sucateamento de investimentos e um verdadeiro desmonte de suas respectivas legislações e garantias de direitos, conquistadas a partir de lutas ao longo de nossa história.
A ausência de um Ministro da Saúde em pleno enfrentamento de um surto pandêmico antes nunca vivido no mundo (a Covid-19), a propagação ideológica de um negacionismo científico ao estilo do período pré-iluminista e a troca constante dos ministros da Educação são fatos extremamente sérios. Porém, se não bastasse todo esse desmonte, a procura pela identificação profissional do então ex-Ministro Carlos Alberto Decotelli da Silva, que ficou por apenas cinco dias no referido Ministério (de 25 a 30 de Junho/2020), causou estarrecimento em alguns, e, infelizmente, descaso em outros, pois descobriu-se fraudes quanto à sua titulação acadêmica e, consequentemente, quanto aos processos para a conquista desta.
Muito temos a comentar a respeito desse episódio, a partir de vários questionamentos, mas perguntando inicialmente: por que a titulação é tão importante para a ocupação do cargo de Ministro da Educação? Para alguns, a titulação pouco interessa, mas para outros é fundamental, principalmente para a investidura do cargo.
Enfim, entendemos, primeiramente, que o importante não é a titulação em si. Esta é aqui entendida como uma mera decorrência de uma história de construção de conhecimentos. Um título, quando nos é atribuído, vem em resposta a uma trajetória que envolve dedicação de tempo e espaço, e é justamente essa trajetória que habilita a pessoa a um bom desempenho em sua atuação profissional e na vida, tornando-se, em nossa compreensão, extremamente importante.
O caso Decotelli, enfim, nos conduziu a abrirmos o nosso DIÁLOGO SOCIAL para abordarmos
Tem sido muito comum em nosso dia a dia – na docência do ensino superior, nos Programas de Iniciação Científica e Extensão, nos processos de conclusão de curso – ouvirmos reclamações, principalmente de alguns discentes, sobre o rigor da ciência e exigências da pesquisa. Há uma forte resistência em aderir à metodologia científica e da pesquisa, desenvolvendo-se até uma aversão contra as regras de formatação dos relatórios científicos.
Os problemas do escândalo Decotelli incluíram erros no desenvolvimento da pesquisa de doutorado, cuja monografia apresentou graves falhas metodológicas e de formatação, sendo reprovada por uma banca de docentes. Em sua dissertação de mestrado, por sua vez, verificou-se plágios textuais que puseram em crivo a legitimidade da pesquisa, dos resultados e, com certeza, até da qualidade das orientações de seu professor e da Instituição de Ensino Superior que aprovou o suposto trabalho.
A formação de nível de terceiro grau não é o mesmo que uma formação técnica. A formação superior envolve a reflexão, primeiramente, e não uma operacionalização como fim principal.
A pesquisa científica, tornou-se, então o cerne da Educação Superior. No processo de construção do conhecimento humano, a pesquisa permitiu o surgimento da ciência, um conhecimento antes não existente que nos trouxe respostas consistentes e fundamentadas a muitas questões indefinidas até então.
O conhecimento é inerente ao Ser Humano. Ao longo de nossa história desenvolvemos várias formas de saber, no entanto, a ciência se caracteriza como um tipo de conhecimento resultante da reflexão, da investigação minuciosa e exaustiva, que se fundamenta em teorias e conceitos promovendo resultados consistentes e seguros (porém não infalíveis).
Em outras palavras, o que estamos tentando dizer é que não há Educação de Terceiro Grau sem pesquisa. A Educação universitária é construção pura de ciência e a pesquisa se torna, então, o meio através do qual esse conhecimento é elaborado. Logo, a pesquisa se torna fundamental e deve ser valorizada. Não há profissionalização de nível superior sem pesquisa.
A pesquisa, porém, ainda pode ser concebida como princípio educativo, ou seja, um aporte pedagógico. Por ser uma ação, “um fazer”, a pesquisa possibilita o “aprender bem”. O discente que pesquisa se torna o “aluno que faz”, “que cria” e “que se diferencia”.
A pesquisa permite uma formação melhor no que se refere à qualidade formal, pois irá proporcionar crescimento no campo da metodologia, da epistemologia, da teoria e sistematização do conhecimento, e à qualidade política, forjando elementos para uma cidadania. As propriedades do fazer, da criação, inerentes à pesquisa, permite o desenvolvimento da capacidade interpretativa e da geração do novo, capacitando ao aluno (pesquisador) a consolidação de ideias.
A pesquisa, então, torna-se um princípio educativo trazendo vantagens para os discentes e professores. Para os discentes: o aluno sai da “vala comum”; desponta para novos horizontes; conquista a autonomia; aprende a ler, enfrentando teorias e polêmicas (a “contraleitura”); aprende a argumentar, contra-argumentar, tendo a autoridade do argumento; passa a fundamentar; elaborar texto próprio, reescrevendo criticamente, tornando-se autor.
Já os docentes, por sua vez, passam a orientar e avaliar de modo maiêutico, evitando a oferta de “receitas” para o aluno; aprende muito mais, tornando mais claro o papel do professor e se aproximando de seus discentes; pode utilizar conteúdos construídos próprios em suas aulas.
A pesquisa poderá ainda permitir a construção de relações sociais saudáveis pois exercita o convívio através das atividades em equipes nas quais se estimulam a solidariedade, a interdisciplinaridade e a capacidade de negociação (saber ceder).
Diante do exposto, temos uma ideia da importância
da pesquisa e do valor da Educação em si. Devemos defender a ciência e a
pesquisa, com toda a seriedade e investimentos que esta pede. Não nos deixemos
levar, em nossa rotina acadêmica, pela ideia do “menor esforço”, desenvolvendo
trabalhos “apressados”, “de última hora”, queimando etapas e ignorando todos os
preceitos que a investigação científica demanda, resultando em relatórios
recheados de lacunas e sem contribuições que agreguem valores.
É necessário, para uma formação profissional de alta qualidade, o estudo sério e a pesquisa científica e isso pede ao estudante/pesquisador que tenha paciência, e que se dedique a horas e horas de estudos – lendo, escrevendo e caindo em campo -, levantando e analisando dados, enfrentado todos os desafios e dificuldades para obtenção de resultados seguros e construtivos de valores cognoscentes, políticos e sociais. Só assim, enfim, estaremos colocando no mercado de trabalho profissionais diferenciados e bem qualificados, e na vida, seres humanos com princípios valorativos que fomentem ações transformadoras.
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